A tentativa de homicídio é uma das infrações penais mais graves tratadas pelo Código Penal brasileiro.
Ela ocorre quando alguém, movido pela intenção de matar, inicia atos capazes de causar a morte de outra pessoa, mas o resultado não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. Apesar de o resultado morte não ocorrer, a tentativa é punida de forma severa, ainda que com pena reduzida em comparação ao homicídio consumado.
De modo geral, a tentativa de homicídio demonstra a periculosidade e o dolo do agente, razão pela qual o ordenamento jurídico brasileiro não a considera um mero ato incompleto, mas sim uma violação concreta ao bem jurídico “vida humana”. A redução da pena não tem por objetivo minimizar o caráter ilícito da conduta, mas reconhecer que o dano final não se concretizou.
Sumário
- Introdução
- O que é tentativa de homicídio?
- Elementos que caracterizam a tentativa de homicídio
- Qual é a pena por tentativa de homicídio?
- Diferença entre tentativa de homicídio e lesão corporal
- O acusado pode responder em liberdade?
- Circunstâncias que agravam ou atenuam a pena
- Como funciona o julgamento (Tribunal do Júri)
- Como se defender de uma acusação de tentativa de homicídio
- A importância do advogado especialista
- Conclusão
Saiba como lutar pelo seu direito neste guia definitivo, elaborado pela Dra. Bruna Queiroz, especialista em Direito Penal, advogada e sócia do escritório Giacaglia Advogados!
A distinção entre tentativa de homicídio e lesão corporal é fundamental: enquanto a lesão corporal atinge a integridade física, a tentativa de homicídio visa à supressão da vida. O direito penal, ao punir a tentativa, busca equilibrar o princípio da proporcionalidade com a proteção da vida, o mais relevante entre os bens jurídicos tutelados.
O Que é Tentativa de Homicídio?
A tentativa de homicídio é configurada quando o agente dá início à execução de um crime de homicídio isto é, realiza atos voltados à morte de alguém, mas o resultado não se consuma por circunstâncias que fogem ao seu controle. A previsão legal encontra-se no artigo 14, inciso II, do Código Penal, segundo o qual o crime é considerado tentado “quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente”.
Isso significa que o autor do crime praticou atos idôneos a causar a morte da vítima, mas, por algum motivo externo, o resultado não aconteceu. Pode ser que o disparo de arma de fogo não tenha atingido órgão vital, que o socorro médico tenha sido imediato ou que o instrumento utilizado tenha falhado.
Em todos os casos, o que define a tentativa é a intenção inequívoca de matar o chamado animus necandi, essa vontade é o que diferencia a tentativa de homicídio da lesão corporal. Se o agente apenas quis ferir ou intimidar, sem desejar o resultado morte, o crime será classificado como lesão corporal. Já se sua conduta objetivou matar, ainda que sem sucesso, incide a tentativa de homicídio.
A punição se justifica porque o comportamento já revela o perigo social da conduta e o desprezo pela vida humana, mesmo que o resultado final não ocorra.
Elementos Que Caracterizam a Tentativa de Homicídio
A tentativa de homicídio, para ser reconhecida, depende da presença de quatro elementos essenciais:
1. Início da execução: o agente precisa realizar atos que, normalmente, levariam à morte da vítima. Por exemplo, disparar uma arma de fogo, golpear com faca ou empregar veneno. Não basta a mera intenção ou preparação; é preciso que a execução do crime tenha efetivamente começado.
2. Interrupção por fatores externos: o crime não se consuma por causas alheias à vontade do agente. Pode haver intervenção de terceiros (como a chegada da polícia), reação da vítima, falha no instrumento utilizado ou qualquer evento que impeça o resultado morte.
3. Intenção de matar (dolo): é indispensável comprovar o animus necandi, ou seja, a vontade de causar a morte. O dolo pode ser direto, quando o agente quer o resultado, ou eventual, quando assume o risco de produzi-lo. Sem essa intenção, não há tentativa de homicídio, mas possivelmente outro crime, como lesão corporal.
4. Não consumação do crime: o resultado morte não ocorre. Se a vítima vem a falecer posteriormente em razão da conduta, o crime será considerado homicídio consumado.
Esses elementos são indispensáveis para o enquadramento do delito, e a ausência de qualquer deles pode levar à desclassificação da acusação.
Qual é a Pena Por Tentativa de Homicídio?
A tentativa de homicídio é punida com base na pena do homicídio consumado, prevista no artigo 121 do Código Penal, que estabelece reclusão de seis a vinte anos. Ocorre, porém, uma redução obrigatória, conforme o artigo 14, parágrafo único, que determina: “salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços”.
Na prática, o juiz primeiro fixa a pena base do homicídio e depois aplica a redução, levando em conta a gravidade dos atos, a proximidade da consumação e o grau de perigo causado. Assim, quanto mais próxima a conduta estiver da morte da vítima, menor será a redução.
Exemplo: se o agente dispara contra o peito da vítima, mas ela sobrevive por atendimento médico, a tentativa é considerada próxima da consumação, e a redução poderá ser de apenas um terço. Já se a tentativa foi frustrada logo no início, a redução pode chegar a dois terços.
A pena também varia se o homicídio for qualificado (motivo torpe, meio cruel, emboscada, feminicídio, etc.), nesses casos, o crime é considerado hediondo, e a tentativa segue a mesma natureza, tornando a punição mais severa.
Diferença Entre Tentativa de Homicídio e Lesão Corporal
Embora os dois crimes envolvam agressões à integridade física, há uma diferença central: a intenção.
Na tentativa de homicídio, há dolo de matar, o agente quer ou assume o risco de matar, já na lesão corporal, o dolo é de ferir, e o agente não deseja a morte, ainda que ela possa ocorrer acidentalmente.
Tentativa de homicídio (art. 121 c/c art. 14, II, do Código Penal):
- Ato voltado à morte, não consumado por fatores externos;
- Dolo direto ou eventual de matar;
- Pena: reclusão de seis a vinte anos, reduzida de um a dois terços.
Lesão corporal (art. 129 do Código Penal):
- Ato voltado a ferir ou causar dano à integridade física;
- Dolo de lesionar, sem intenção letal;
- Pena variável de três meses a oito anos, conforme a gravidade.
Em resumo: na tentativa de homicídio, a intenção letal é clara, na lesão corporal, a intenção é apenas de causar dano físico.
O Acusado Pode Responder em Liberdade?
Depende do caso.
A regra é que o juiz analise os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal, considerando a gravidade do crime, o risco à ordem pública e os antecedentes do acusado.
Se a tentativa for qualificada por motivo torpe, meio cruel, emboscada ou feminicídio, não será possível a concessão de fiança, pois se trata de crime hediondo. Nessa hipótese, a prisão preventiva costuma ser mantida para garantir a segurança da sociedade e a aplicação da lei penal.
Nas tentativas simples, contudo, é possível responder em liberdade, caso o acusado tenha residência fixa, bons antecedentes e não represente risco à ordem pública.
O juiz pode conceder liberdade provisória com ou sem fiança, conforme o caso.
Circunstâncias Que Agravam ou Atenuam a Pena
Durante a dosimetria da pena, o juiz pode considerar fatores que tornam a conduta mais grave ou mais branda.
Agravantes:
- Motivo fútil ou torpe (como vingança, ciúme, inveja);
- Emprego de meios cruéis (tortura, espancamento, fogo);
- Dificultar a defesa da vítima (emboscada, surpresa);
- Reincidência;
- Crime contra pessoa vulnerável (criança, idoso, pessoa com deficiência);
- Tentativa para facilitar ou ocultar outro crime.
Atenuantes:
- Arrependimento eficaz (quando o autor impede o resultado morte);
- Confissão espontânea;
- Menoridade relativa (menos de 21 anos na data do fato);
- Coação moral irresistível;
- Colaboração com as autoridades.
Essas circunstâncias influenciam diretamente o tamanho da pena aplicada, podendo resultar em redução significativa ou aumento considerável, conforme o caso.
Como Funciona o Julgamento da Tentativa de Homicídio
Os crimes dolosos contra a vida, inclusive a tentativa de homicídio, são julgados pelo Tribunal do Júri, conforme o artigo 5º, inciso XXXVIII, da Constituição Federal. Nesse tipo de julgamento, sete jurados leigos decidem se o acusado é culpado ou inocente, com base nas provas apresentadas.
O procedimento passa por duas fases:
- Fase de instrução e pronúncia: conduzida por um juiz togado, que decide se há indícios suficientes para levar o réu a julgamento popular;
- Sessão do júri: os jurados ouvem as partes, avaliam as provas e votam secretamente sobre a responsabilidade do acusado.
Cabe ao juiz-presidente apenas aplicar a pena, conforme o resultado dos votos, a participação popular garante maior legitimidade às decisões em crimes que envolvem a vida humana.
Como se Defender de uma Acusação de Tentativa de Homicídio
A defesa técnica é essencial em casos de tentativa de homicídio, o advogado criminalista atua desde o inquérito policial até o Tribunal do Júri, analisando provas, laudos e depoimentos para garantir o respeito ao devido processo legal.
As principais linhas de defesa incluem:
- Ausência de dolo: demonstrar que o acusado não teve intenção de matar, buscando a desclassificação para lesão corporal;
- Legítima defesa: provar que o agente agiu para repelir agressão injusta;
- Erro de execução (aberratio ictus): quando o agente atinge pessoa diversa da pretendida;
- Desistência voluntária: quando o autor, por vontade própria, interrompe o crime antes da consumação;
- Nulidades processuais: questionar provas ilícitas ou vícios na investigação.
Uma defesa eficiente pode evitar condenações injustas ou desproporcionais, garantindo que a pena reflita a realidade dos fatos.
A Importância do Advogado Especialista
A atuação de um advogado especializado em crimes contra a vida é determinante para assegurar um julgamento justo, a análise técnica das provas, a identificação de erros processuais e a argumentação jurídica correta podem mudar completamente o rumo de um processo.
O advogado pode negociar medidas cautelares alternativas à prisão, demonstrar ausência de dolo ou pleitear atenuantes legais. Além disso, é quem garante que o réu tenha pleno exercício de defesa, conforme o artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal.
Em um crime tão grave quanto a tentativa de homicídio, a falta de defesa técnica adequada pode resultar em condenações injustas e penas desproporcionais.
Conclusão
A tentativa de homicídio é um dos temas mais complexos e relevantes do direito penal, embora o resultado morte não ocorra, a intenção letal do agente e a gravidade da conduta justificam uma punição severa. O Código Penal, ao prever a redução da pena, busca equilibrar justiça e proporcionalidade, punindo a periculosidade sem ignorar a ausência do resultado final.
Em qualquer hipótese, a defesa técnica é indispensável, o advogado deve examinar as circunstâncias do fato, o dolo, o meio empregado e as provas apresentadas, garantindo que o acusado tenha um julgamento justo e equilibrado.
Se você ou alguém próximo está sendo acusado de tentativa de homicídio, é fundamental contar com uma defesa técnica especializada.
O escritório Giacaglia Advogados Associados atua em todo o país com ampla experiência em crimes contra a vida, Tribunal do Júri e Direito Penal.
Entre em contato e garanta que seus direitos sejam plenamente respeitados cada detalhe da defesa pode mudar o resultado do processo.