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Valores Bloqueados no Mercado Pago: Entenda Seus Direitos e Como Exigir a Liberação

Você realizou vendas, prestou um serviço ou recebeu um pagamento legítimo, mas o Mercado Pago bloqueou seus valores sem explicação clara?

Essa situação é mais comum do que parece e tem afetado milhares de usuários tanto vendedores do Mercado Livre, quanto profissionais autônomos e pequenas empresas que utilizam o sistema de pagamentos da plataforma.

Quando o dinheiro fica “em análise” ou “retido”, o impacto é direto: o vendedor perde fluxo de caixa, o negócio paralisa e a insegurança aumenta. Mas até que ponto isso é legal? O consumidor pode exigir a liberação do saldo?


Este artigo explica por que o Mercado Pago retém valores, os prazos e justificativas mais comuns, situações que configuram abuso, como reunir provas e quando acionar a Justiça para recuperar o dinheiro.

1. Por que o Mercado Pago retém valores

O Mercado Pago é uma fintech do grupo Mercado Livre que atua como intermediadora de pagamentos, ou seja, ela recebe o valor da compra e só o repassa ao vendedor após determinadas verificações.
Esse modelo tem o objetivo de proteger o comprador contra fraudes, mas na prática acaba gerando bloqueios automáticos injustos.

Motivos mais comuns de retenção:

  1. Verificação antifraude: o sistema detecta atividade “atípica” (ex.: aumento repentino de vendas ou uso de novo dispositivo);
  2. Disputa de compra (chargeback): o comprador abre reclamação alegando não recebimento ou produto diferente;
  3. Violação de políticas da plataforma: venda de itens proibidos, falta de nota fiscal, divergência de informações;
  4. Análise de segurança: transações acima do valor médio habitual ou movimentações suspeitas;
  5. Conta nova ou sem histórico de reputação: vendedores iniciantes costumam ter saldos retidos por mais tempo.

Apesar de parecer legítimo, o bloqueio não pode ser arbitrário nem desproporcional. A fintech atua como prestadora de serviços financeiros, portanto, responde objetivamente por falhas (art. 14 do CDC).

Quando o bloqueio ocorre sem motivo comprovado ou se estende além do prazo razoável, o consumidor tem direito à liberação imediata e à indenização por danos materiais e morais.

2. Prazos de liberação e justificativas comuns

A política interna do Mercado Pago prevê diferentes prazos para liberação do dinheiro, dependendo do tipo de operação:

O problema é que, muitas vezes, o vendedor não é informado claramente sobre o motivo do bloqueio nem o prazo exato de liberação o que fere o direito à informação (art. 6º, III, do CDC).

Principais justificativas apresentadas pela plataforma:

  • “Movimentação fora do padrão da conta.”
  • “Análise automática de segurança.”
  • “Revisão por risco de chargeback.”
  • “Verificação manual pendente.”

Essas expressões genéricas não são suficientes para justificar a retenção do saldo, o fornecedor de serviços financeiros deve provar a necessidade da medida e informar com transparência o consumidor.

3. Situações abusivas e ilegais

Nem todo bloqueio é ilegal há hipóteses legítimas, como fraudes comprovadas.
Entretanto, quando a retenção ocorre sem base concreta, por tempo excessivo ou sem comunicação adequada, a conduta se torna abusiva.

Exemplos de práticas ilegais:

  1. Bloqueio sem notificação prévia: o usuário descobre a restrição apenas ao tentar sacar;
  2. Demora excessiva na análise: retenções que ultrapassam 30 dias sem decisão concreta;
  3. Bloqueio total do saldo, mesmo com parte das vendas já entregues;
  4. Falta de transparência nos motivos da retenção;
  5. Negativa de liberação mesmo após apresentação de comprovantes.

Essas situações violam o princípio da boa-fé objetiva (art. 422 do Código Civil) e configuram abuso de direito (art. 187 do CC), pois a fintech utiliza seu poder econômico para impor condições desvantajosas ao consumidor.

Além disso, conforme o art. 39, V, do CDC, é prática abusiva exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva como manter valores retidos indefinidamente sob pretexto de “análise interna”.

4. Como reunir provas para contestar

Quando ocorre o bloqueio, o primeiro passo é documentar tudo.
O sucesso de uma contestação administrativa ou judicial depende das provas apresentadas.

Passo a passo para reunir provas:

  1. Prints da tela mostrando o saldo bloqueado, mensagens automáticas e data;
  2. Comprovantes de venda ou entrega (rastreamento, nota fiscal, código de envio);
  3. Histórico de e-mails e atendimentos feitos junto ao suporte do Mercado Pago;
  4. Prints de conversas com o comprador, demonstrando que o produto foi recebido;
  5. Extratos bancários mostrando o impacto financeiro (falta de repasse);
  6. Protocolos de atendimento e número de reclamações abertas.

Esses documentos ajudam a demonstrar:

  • Que a transação foi legítima;
  • Que não houve fraude nem irregularidade;
  • Que a retenção foi desproporcional e sem fundamento.

Com esse conjunto de provas, é possível formular uma notificação extrajudicial exigindo a liberação do saldo, ou mesmo ajuizar ação requerendo liberação e indenização.

5. Quando acionar a Justiça para liberar o saldo

Se o bloqueio persistir mesmo após contato com o suporte, o consumidor pode recorrer ao Poder Judiciário.
A ação mais adequada varia conforme o caso:

a) Ação de obrigação de fazer com tutela de urgência

Usada para exigir a liberação imediata dos valores bloqueados, com base no art. 300 do CPC, que permite tutela antecipada quando há:

  • Probabilidade do direito (provas da venda e entrega);
  • Perigo de dano (dificuldade financeira, prejuízo à atividade).

O juiz pode determinar que o Mercado Pago libere o saldo em até 48 horas, sob pena de multa diária.

b) Ação de indenização por danos materiais e morais

Quando o bloqueio gera prejuízo financeiro (perda de vendas, atrasos, descrédito) ou abalo psicológico.
A jurisprudência reconhece o dano moral presumido em situações de bloqueio arbitrário de valores.

c) Ação cumulada (liberação + indenização)

O mais comum é ajuizar uma ação única, pedindo tanto a liberação dos valores quanto a indenização pelos danos sofridos.

Em todos os casos, o processo pode tramitar no Juizado Especial Cível, desde que o valor não ultrapasse 40 salários mínimos.

6. O que dizem o CDC e o Banco Central

Embora o Mercado Pago não seja um banco tradicional, ele atua como instituição de pagamento autorizada pelo Banco Central (BACEN) e, portanto, está sujeito a regras de transparência e proteção ao usuário.

O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) garante que:

  • O fornecedor deve prestar serviços de forma segura e eficiente (art. 6º, VI);
  • O consumidor tem direito à informação clara e adequada (art. 6º, III);
  • É vedado reter valores indevidamente sem justificativa (art. 39, V);
  • A responsabilidade é objetiva, ou seja, independe de culpa (art. 14).

O Banco Central, por meio da Circular nº 3.682/2013 e da Lei nº 12.865/2013, exige que instituições de pagamento:

  • Disponibilizem acesso rápido e transparente aos saldos dos usuários;
  • Informem imediatamente qualquer bloqueio e seu motivo;
  • Garantam processo de contestação e atendimento eficiente.

Assim, bloquear valores sem explicação ou impedir o acesso ao dinheiro viola não apenas o CDC, mas também normas financeiras federais.

7. Como agir antes de ir à Justiça

Antes de recorrer ao Judiciário, é possível tentar resolver administrativamente:

  1. Abra chamado no suporte do Mercado Pago (central de ajuda > minha conta > saldo bloqueado);
  2. Registre reclamação no Procon do seu estado, mencionando os números de protocolo;
  3. Publique no Reclame Aqui, pois muitas vezes a fintech responde rapidamente;
  4. Notifique extrajudicialmente, com auxílio de um advogado, exigindo a liberação em 5 dias úteis.

Essas etapas demonstram boa-fé e tentativa de resolução amigável, fortalecendo sua posição em eventual processo judicial.

Se, mesmo assim, o valor não for liberado, ajuizar ação é o caminho natural especialmente quando há impacto financeiro comprovado ou omissão da plataforma.

8. Dicas para evitar bloqueios futuros

  • Mantenha o mesmo CPF/CNPJ e dados bancários sempre atualizados;
  • Evite movimentações atípicas (depósitos altos e imediatos após longos períodos inativos);
  • Emita notas fiscais para cada transação;
  • Guarde comprovantes de envio e entrega;
  • Não misture contas pessoais e profissionais;
  • Evite enviar links ou dados fora da plataforma (isso pode ser interpretado como risco de fraude);
  • Leia as políticas de uso do Mercado Pago e do Mercado Livre regularmente.

Essas medidas simples reduzem o risco de análise automática e fortalecem a credibilidade da conta.

9. Direitos do consumidor em destaque

Se você tem valores bloqueados no Mercado Pago ou Mercado Livre, lembre-se:

  • O bloqueio deve ter fundamento concreto e comunicação clara;
  • A fintech não pode reter valores por tempo indeterminado;
  • O consumidor tem direito à informação e transparência;
  • A falha no serviço gera indenização (art. 14 do CDC);
  • É possível exigir judicialmente a liberação e reparação.

A Lei 14.181/2021 (Lei do Superendividamento) também protege o consumidor contra práticas abusivas de empresas financeiras digitais, reforçando o dever de boa-fé e equilíbrio contratual.

10. Conclusão

O bloqueio de valores pelo Mercado Pago, embora apresentado como medida de segurança, não pode violar direitos básicos do consumidor.
Toda retenção deve ser proporcional, temporária e justificada, com comunicação transparente e possibilidade de defesa.

Se o saldo permanece bloqueado por tempo excessivo, sem explicação ou com respostas genéricas, você tem direito à liberação imediata e pode exigir reparação judicial.

Ninguém pode ser privado de recursos legítimos sob o pretexto de “análise automatizada” e os tribunais brasileiros têm reconhecido isso em inúmeras decisões.

Se você teve valores retidos pelo Mercado Pago ou Mercado Livre, saiba que é possível exigir a liberação e reparação pelos prejuízos causados.

Nosso escritório atua em defesas e ações contra plataformas digitais e fintechs, com foco em bloqueios indevidos, retenções abusivas e fraudes eletrônicas.
Receba uma análise personalizada e gratuita do seu caso.

Entre em contato com o escritório Giacaglia Advogados Associados e saiba como recuperar seu dinheiro e proteger seus direitos financeiros.

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